Quatro leprosos e seus segredos

Fé e esperança em tempos de coronavírus.
10/05/2020

Quatro homens leprosos estavam à entrada da porta, os quais disseram uns aos outros: Para que estaremos nós aqui sentados até morrermos?
Se dissermos: entremos na cidade, há fome na cidade, e morreremos lá; se ficarmos sentados aqui, também morreremos. Vamos, pois, agora, e demos conosco no arraial dos siros; se nos deixarem viver, viveremos; se nos matarem, tão somente morreremos.

Levantaram-se ao anoitecer para se dirigirem ao arraial dos siros; e, tendo chegado à entrada do arraial, eis que não havia lá ninguém.
Porque o Senhor fizera ouvir no arraial dos siros ruído de carros e de cavalos e o ruído de um grande exército; de maneira que disseram uns aos outros: Eis que o rei de Israel alugou contra nós os reis dos heteus e os reis dos egípcios, para virem contra nós. Pelo que se levantaram, e, fugindo ao anoitecer, deixaram as suas tendas, os seus cavalos, e os seus jumentos, e o arraial como estava; e fugiram para salvar a sua vida. (2 Reis 7. 3-7)

Este tempo estranho e de grande perplexidade que estamos vivendo no Brasil e no mundo, devido à pandemia protagonizada pela crise do novo coronavírus, é uma realidade sem precedentes na história recente da humanidade. Conforme temos acompanhado, a crise tem afetado de forma avassaladora todos os setores da sociedade: economia, relações sociais, saúde, governos, igrejas, etc.

Um clima de profunda incerteza e ansiedade tem tomando conta de todos nós, notadamente diante da realidade catastrófica que estamos vivendo, com um exponencial número de mortes.

No livro de 2 Reis 7.1-15, nós nos deparamos com uma história de grande calamidade e miséria vivida por Israel, que muito nos ensina a superar as dificuldades que hoje enfrentamos. O ano era aproximadamente 850 a.C. Jorão era o líder maior de Israel e, seguindo os passos de seus pais, Acabe e Jesabel, seu governo foi marcado por ações à margem dos critérios de Deus.

Foi um tempo avassalador causado pelo cerco imposto pelos assírios. Esse sítio estrangeiro teve como consequências fome e improdutividade (v. 25), devido à falta de condições de o povo sair ao campo para plantar, colher e abastecer suas casas, o que gerou forte elevação do custo de vida. A cidade estava presa, em “quarentena”, gerando não só uma profunda estagnação econômica e social, como uma trágica situação de miséria absoluta – basta conferir o episódio de canibalismo estarrecedor das duas mulheres famintas (v. 28 e 29).

A cidade sitiada sofreu ainda outro agravante: a alma da liderança da nação foi severamente atacada, pois caíram no pessimismo, na dor e na amargura profunda por não mais saberem qual estratégia adotar para salvar a nação da profunda adversidade (v. 27, 33).

O texto nos dá conta de que o caminho a ser percorrido até a solução da crise pode nos surpreender. Deus é criativo e nos ensina a pensar “fora da caixa”. Sua forma de agir foi admirável e veio de onde não se esperava. A resposta não veio do rei e seus oficiais. Também não surgiu da classe privilegiada nem do povo encurralado. De forma irônica e absurda, o segredo estava com os fragilizados e discriminados quatro leprosos (v.3), os quais se encontravam à porta da cidade de Samaria. Como discerniu sabiamente o apóstolo Paulo em 1Coríntios 1.27 a 28, na versão A Mensagem: “Não é obvio que Deus, deliberadamente, escolheu homens e mulheres que a sociedade despreza, explora e abusa? Não é óbvio que ele escolheu gente do tipo “zé-ninguém” para desmascarar as pretensões vãs dos que se julgam importantes?”.

Diante da situação de medo e miséria, os leprosos revelaram quatro segredos que mudaram o rumo de suas vidas e salvaram todo o povo de uma tragédia histórica. E quanto a nós? O que podemos aprender com eles para enfrentarmos este tempo de crise e perplexidade local e mundial no qual estamos vivendo? Qual a resposta a ser dada diante dessa realidade tão estranha e perturbadora?

O primeiro segredo foi a coragem para vencer suas limitações e medos (v.3). Foi por isso que os leprosos não permitiram que suas condições de fraquezas e debilidades os impedissem de prosseguir em busca de sobrevivência e de dias melhores. Tiveram coragem de encarar a solidão, a estigmatização, a culpa, a segregação e a impotência. Estavam confiantes na graça de Deus para alcançarem o livramento e serem vitoriosos. Entenderam que era preciso se mostrar fortes e esperançosos em tempo de perplexidade e medo. Como bem nos ensina o livro de Provérbios: “Se te mostras fraco no dia da tua angústia, pouco será a tua força” (Provérbios 24.10).

Desta forma, não caíram no laço do pessimismo, do derrotismo, da autocomiseração, tampouco da murmuração. Eles se portaram com ousadia, em nome de Deus, e caminharam firmes na busca de seus propósitos e anseios.

Neste tempo de pandemia, é possível que o medo esteja nos dominando. Isso nos leva a refletir, sobretudo, acerca da realidade de nossas limitações enquanto seres humanos. Ela nos faz lembrar que não temos o controle das coisas e que, por isso, devemos confiar em um Deus que é poderoso para nos guardar em meio aos desafios que estamos enfrentando. Assim, o que nos cabe, faremos, como cumprir a quarentena e ter os cuidados com a higiene, mas, acima de tudo, devemos depender da graça e da misericórdia de Deus.

Em segundo lugar, tiveram ânimo para agir em favor da sustentação de suas vidas (v.4). A pandemia de Covid-19 trouxe novas formas de vermos e pensarmos a vida. Todos nós estamos sendo desafiados a usar a criatividade para nos reinventarmos. Na verdade, crises e adversidades se colocam sempre como excelentes oportunidades para a busca de novos caminhos. Os quatro leprosos estavam animados para agirem firmemente contra a indiferença, apatia, indolência e morbidez. Se tivessem de morrer, morreriam lutando, agindo. Assim pensaram. Certamente, a pior derrota é a derrota sem luta. Não devemos nos intimidar diante dos desafios da vida. É preciso enfrentar os problemas e adversidades com animada ação. A única maneira de enfrentar as tragédias é com ânimo para lutar. Saia da zona de conforto e seja proativo! Aja com firmeza pela sua família! Lute com coragem pelos seus propósitos! Nunca permita que as dificuldades apaguem a chama da alegria e da esperança em seu coração. Em tempos de perplexidade como o que estamos vivendo, tenhamos ânimo para agir com confiança, pois Deus providenciará o livramento que precisamos.

O terceiro segredo é que tiveram esperança para crer em dias melhores (v.4). A esperança é o que dá sentido à existência humana. Sem ela, perdemos o ânimo, a alegria da vida e a expectativa de um futuro melhor. O texto nos dá conta de que os quatro leprosos não tinham mais nada a perder. Afirmaram: “Se entrarmos na cidade, há fome na cidade e morreremos. Se ficarmos sentados, morreremos. Vamos ao arraial dos siros, se nos deixarem viver, viveremos, se nos matarem, apenas morreremos” (v.4). Portanto, não pensaram em outra alternativa senão a de avançar, pois ainda existia esperança. Não tinham mais nada a perder. Não tinham nada mais a que se apegar (bens, status, posição, etc). Somente aqueles que têm a capacidade de se desprenderem, de se desapegarem é que se tornarão capazes de arriscar e seguir com esperança lutando por dias melhores. É gente que consegue romper com o comodismo, com a preguiça, com a desambição, e, com coragem, aventuram-se. As perplexidades e vicissitudes da vida podem ser uma mola propulsora para nos levar a novas e ricas experiências, que podem ser um divisor de águas em nossa existência. Assim como os leprosos, nesse tempo de crise, precisamos seguir com esperança, assumindo riscos, buscando dias melhores, crendo que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28).

Finalmente, aproveitaram, de forma urgente, a oportunidade da vida (v. 4,5). Os quatro leprosos disseram: “Vamos, pois, agora…” (v. 4b). “Levantaram-se ao anoitecer” (v. 5). O texto revela que eles não esperaram o dia amanhecer, o que era o mais natural. Entretanto, havia um sentido de urgência, de celeridade, de ação imediata. Entenderam que não poderiam perder tempo, pois aquela era a hora oportuna, o tempo estratégico para agirem. Era o tempo apropriado, favorável de Deus se manifestar. O dia “D” de Deus em suas vidas. A realidade enfrentada pelos leprosos era de perplexidade, de aguda calamidade e dor, entretanto era também o tempo oportuno de Deus agir com poder e graça. Admirável e criativamente, o tempo de Deus operar pode vir na hora mais difícil, fora do nosso controle. No momento de caos e descontrole, Deus se manifesta realizando o milagre. Ele intervém, transformando as tragédias e ressignificando as nossas vidas. Estamos vivendo tempos difíceis, a pandemia do coronavírus tem afetado terrivelmente a sociedade. Muitas famílias têm perdido seus entes queridos; muitos têm tido perdas financeiras significativas; o desemprego bate à porta. Esta é a hora, o momento de Deus intervir, transformando a tragédia e a dor em vitória e júbilo. Este é o momento oportuno de Deus manifestar Sua graça, poder e misericórdia. É o tempo de Deus fazer coisas novas em nosso meio.

Quando os quatro leprosos responderam com coragem, ânimo, esperança e sentido de urgência àquele tempo de crise e perplexidade, Deus interveio proporcionando livramento e dignidade a todos. O texto diz que “os inimigos fugiram ao anoitecer” (v.7), exatamente quando os quatro leprosos “levantaram ao anoitecer” (v.5). Foi uma ação conjunta, sincronizada, simultânea. Quando os fracos leprosos levantaram com coragem, ânimo, esperança e senso de urgência em nome de Deus, Ele se levantou adiante deles. Deus afastou de forma criativa e poderosa seus inimigos (v.6,7). Louvado seja o nome do Senhor!

Hoje também é dia de livramento e reestruturação em sua vida e família! Deus está encorajando você a se levantar, a se reerguer e, com ânimo e esperança, vencer seus medos, ansiedades, pensamentos negativos, complexos de inferioridade, desesperança, acomodação e abatimento. Aproprie-se da força que vem do alto, pois: “O nosso socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Salmos 121); “Ele é o seu refúgio em tempo de aflição e adversidade” (Salmos 46). Diga em alto e bom som: “Porque o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12.9-10). “Diga o fraco, eu sou forte” (Joel 3.10). Afirme para você mesmo: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).

Quando você declara com fé, coragem e esperança, Deus intervem simultaneamente. É muito mais que uma confissão positiva; é uma afirmação de fé! O livramento alcançado foi tão marcante que os quatro leprosos foram generosos, partilharam com os outros o que receberam. Disseram: “este dia é dia de boas-novas…” (v.9a); “vamos e o anunciemos à casa do rei” (v.9b).

Assim também acontecerá na vida de todos aqueles que diante das adversidades e da atual crise que estamos enfrentando, frente aos desafios do coronavírus, aprendem a responder com coragem, ânimo e esperança. São capazes de compartilhar os benefícios das vitórias alcançadas, transformando a realidade de perplexidade e dor em experiência de vida e realização.

No amor de Cristo,

Rev. Jonas Barreto